GORDINHO: UM ATO POLÍTICO
Na cultura ocidental o corpo sempre foi um espaço de disputa de poder. A dominação do corpo, seja do seu próprio ou do outro, é um fetiche antigo na humanidade. Passou pelos extremos ideológicos, foi o centro da beleza, da ojeriza, da santidade, do pecado, do doente e do são. A Modernidade o conduziu para um patamar mais mecânico em sintonia com a edificação de uma sociedade disciplinar. O corpo era algo dócil e indolente, preguiçoso e adoentado que precisava se tornar produtivo. Era necessário disciplina-lo, potencializa-lo. Deu inicio então a uma política do corpo que foi se sofisticando cada vez mais. O Biopoder dobra o corpo para flexionar o espírito. E usa o corpo são para minar a mente do corpo “débil”. O corpo belo é um instrumento de hierarquização social e mantenedor do status quo. É bem mais fácil subjugar às criaturas que se envergonham de sua forma e existência. Na sofisticada Sociedade de Controle não é mais satisfatório simplesmente subjugar o corpo é necessário controlar o desejo, noopoder. A Indústria do corpo inicia uma cruzada de propagandas para fazer com que os indivíduos desejem aquilo que não podem ter. É criada toda uma estrutura sanitária, surge à dietética, os salões de belezas, as manicures, as divas do cinema. Um conjunto que produz o discurso e o desejo pelo corpo belo e saudável com o claro intuito de gerar o ser mais necessário ao Capital, o consumidor. O discurso médico e cientifico do saudável mascara a velha incapacidade Humana de aceitar seu corpo mortal e imperfeito. Para escapar da fragilidade física criamos corpos utópicos, na antiguidade temos os centauros e na modernidade criamos as celebridades. Não nego que devemos cuidar de nossos corpos, não porque são nossos, mas porque somos eles. A heterogeneidade dos corpos é a diversidade das outras formas de ser (humano). Querer uniformizar os corpos, tornando todos “saudáveis” e “belos”, é negar as outras formas de existência e fugir do que somos de fato, ou seja, mortais imperfeitos que é um defeito que nos torna divinal. Ser gordinho é um ato político, pois é assumir o que somos em mente e corpo, é crer e construir a sua própria beleza e resistir à representação dominante perigosa para a Humanidade foi em busca da perfeição idealizada doentiamente que atrocidades como o Nazi-fascismo pode existir. Não é só combater preconceitos (o que já é muito), mas dizer a todos que há outras infinitas possibilidades de ser belo, inclusive ser “saudável”.
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