Literatura e História: A Verdade segundo Drummond
A História como a Ciência da Libertação teve que primeiro se libertar dos grilhões da verdade. No exercício da religiosidade as pessoas assumem para si A VERDADE e para afirmar-se como A VERDADE nega as outras verdades considerando-as como mentiras. A Ciência da Libertação não parte da negação de outras verdades, mas por assumir a possibilidade de uma inexistência DA VERDADE e sim da possibilidade de coexistência de MÚLTIPLAS VERDADES. É justamente para nos explicar está idéia de COEXISTÊNCIA DE MÚLTIPLAS VERDADES que exponho o poema abaixo:
VERDADE
Carlos Drummond de Andrade
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
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