A LUTA DO NEGRO E O NEGRO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
Por Cláudio
Correia de Oliveira Neto
Historiador
Licenciado- UFRN
Especializando
em Educação de Jovens e Adultos no contexto da Diversidade - IFRN
Técnico de Nível
Médio Integrado em Controle Ambiental- IFRN
TRANSCRIÇÃO
DA AULA MINISTRADA NO SENAC/RN NA PROVA PRÁTICA PARA INSTRUTOR DE HISTÓRIA NO
PREPARÁTÓRIO ENEM 2017
DOC 01
[...]
Ontem
plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
[...]
ALVES,
Castro. O Navio negreiro. São Paulo. 1869.
O
poeta Castro Alves em sua obra mais famosa, “O navio negreiro”, expõem toda a
dor causada pela escravidão que arranca o negro de sua terra para ser
escravizado em terras estranhas e distantes. A lógica do sistema escravista só
pode ser compreendida a luz do mercantilismo.
1.
A
Escravidão no contexto do mercantilismo:
Sistema
econômico mercantilista tinha como seu principal objetivo a máxima obtenção de
lucro com o mais baixo investimento possível. A opção pela mão de obra negra se
deu devido abundância de mão de obra africana; baixo custo para a sua aquisição;
alta lucratividade e mão-de-obra experiente com agricultura e mineração. Além
da dificuldade de obtenção da mão de obra indígena, protegida pela igreja com o
apoio da coroa, relutante culturalmente ao trabalho nos moldes mercantilista e
facilidade de fuga por conhecer bem o território local.
DOC 02
Mapa 01 As
rotas do tráfico de escravos africanos para as Américas e Brasil. S. ref.
Disponível em
https://historiadesaopaulo.wordpress.com/escravidao-negra-em-sao-paulo-e-no-brasil/
Acesso 22 nov.2016
O mapa
mostra que a maior parte do negro africano que chegaram ao Brasil pertenciam a
dois grandes grupos: Sudaneses e Bantos. Os Bantos Atendiam as demandas de RJ,
MG e PE. Eram provenientes de Angola e Moçambique. Já os Sudaneses Atendiam as
demandas da Bahia. Eram provenientes Nigéria, Daomé e Costa do Marfim. Neste
grupo temos os Malês (muçulmanos) que em 1835 ganharam fama pela maior revolta
escrava ocorrida na Bahia liderada por Luzia Mahim, mãe do abolicionista e
jurista Luiz da Gama.
DOC 03
“Todo o trabalho é realizado pelos pretos, toda
riqueza é adquirida por mãos negras, porque o brasileiro não trabalha, e quando
é pobre prefere viver como parasita em casa dos parentes e amigos ricos, em vez
de procurar ocupação honesta.”
BINZER, I. von. Alegrias e tristezas de uma
educadora alemã no Brasil, 1881.
A fala
de Binzer é esclarecedora da contribuição do negro não só culturalmente mas
também economicamente. A riqueza brasileira e acumulo primitivo de capital só
ocorre devido ao trabalho do escravo negro.
2.
Visões
da escravidão
DOC 04
“Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo
em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de
ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida, trazemos quase
todos a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou. Que
nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela própria amolegando na mão o bolão
de comida. Da negra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de
mal-assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho- de- pé de uma coceira
tão boa. De que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-
de- vento, a primeira sensação completa de homem. Do muleque que foi o nosso
primeiro companheiro de brinquedo.”
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. 43
ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
DOC 05
“Onde houve escravidão houve resistência. E de
vários tipos. Mesmo sob a ameaça do chicote, o escravo negociava espaços de
autonomia com os senhores ou fazia corpo mole no trabalho, quebrava
ferramentas, incendiava plantações, agredia senhores e feitores, rebelava-se
individual e coletivamente. (...)”
SILVA, Eduardo. REIS, João José. Negociação e
conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das
Letras, 1989
Por
muito tempo na história do Brasil o escravo negro foi visto apenas como objeto.
É só na primeira metade do século 20 que se atribui ao negro uma visão de
sujeito. Na abordagem tradicional exemplificada por Freyre no Doc. 04 o negro é
um sujeito passivo que aceita a escravidão sem resistir. Esta abordagem apaga
as relações de poder e dominação entre bancos e negros, e a substitui por uma
visão romantizada das relações inter-raciais. O Doc. 05 já traz uma outra
perspectiva, o negro é um sujeito que resiste a escravidão e elabora diferentes
estratégias de resistência.
3.
Formas
de resistência: Banzo, Quilombos e tentativas de integração social
Uma das
estratégias de luta usada pelos escravos africanos, ou seja, o que não nasceram
no Brasil era o banzo. Esta forma de resistência consiste em se negar a
trabalhar, comer e tomar água. Mesmo sofrendo agressões físicas ele persiste no
firme propósito de morrer com o objetivo de prejudicar financeiramente o seu
dono. O banzo também ficou conhecido como doença da saudade.
Outra
forma era a fuga para os quilombos, agrupamentos afastados da cidade que
abrigavam escravos em fuga, ex-escravos, indígenas e alguns brancos pobres. O
quilombo mais conhecido e considerado um dos maiores é o de Palmares, na região
da Serra da Barriga, estado de Alagoas. Quilombo esse liderado por Zumbi dos
Palmares, símbolo da luta negra e homenageado no dia da consciência negra.
Também
havia os que optavam por estratégias menos agressivas de resistência. Esse
grupo adotava principalmente estratégias de aproximação com seus donos, os
serviam bem e os obedeciam na esperança de conquistarem sua confiança e quem
sabe ganharem a liberdade. Eles usavam também o fator religioso como forma de
se integrar socialmente e conseguir benefícios através da criação das
irmandades leigas como, por exemplo, a de Nossa Senhora do Rosário dos negros.
4.
Crise
do sistema escravista
A Inglaterra visando diminuir a concorrência e
ampliar seu mercado consumidor pressiona o Brasil a abolir a escravidão. Diante
disto são criadas uma série de leis que pretendem progressivamente liberta os
escravos. A primeira lei ocorre em 1845 , mas é “uma lei para inglês ver”, pois
apesar de proibir o trafico negreiro não previa nenhuma punição.
DOC 06
Figura 01 Linha do tempo das leis abolicionistas.
Disponível em
http://www.historiadobrasil.net/brasil_monarquia/leis_abolicionistas.htm Acesso
22 nov.2016
A lei Eusébio de Queirós é a primeira que além de
proibir prevê punição aos criminosos, contudo não acaba com a escravidão. A lei
do ventre livre é considerados por alguns o marco principal do fim da
escravidão, pois a partir daquela data não nasceria mais escravos no Brasil. Na
prática não foi bem assim. A criança era escrava até os 8 anos quando era
liberta e seu dono indenizado pelo governo. Mas para onde vai uma criança de 8
anos? Como iria se manter? Ou continuava com a mãe cativo ou era abandonado na
porta de instituições de caridade. Outra opção que a lei dava era que os
nascidos a partir de então fossem livres apenas ao completar 21 anos, sem que o
dono tenha direito a indenização. Também não adiantava, era se livre mas não
tinha nenhuma forma de se sustentar e nem local pra residir.
A lei do sexagenário era outra lei de pouca
utilidade. Primeiro porque a média de vida de um homem branco era de 45 anos,
daí já se nota a quase impossibilidade de um negro viver até os 60 anos. Além
do mais ele era obrigado a trabalhar mais 5 anos para indenizar o seu dono e ao
enfim ao ser liberto aos 65 anos não teria como se manter e nem para onde ir.
Quando a lei Áurea chegou só 10% da população
negra ainda era escrava.
DOC 07
Ano
|
Nº de escravos que entraram no Brasil
|
1845
|
19 453
|
1846
|
50 325
|
1847
|
56 172
|
1848
|
60 000
|
VIOTTI DA COSTA, E. Da senzala à colônia. São Paulo: Unesp, 1998.
DOC 08
A formação do capitalismo dependente no Brasil, 1977, de Ladislau
Dowbor, que se referem ao preço médio de um escravo (sexo masculino) no Vale do
Paraíba.
Ano
|
Preço (mil réis)
|
1835
|
375
|
1845
|
384
|
1855
|
1 075
|
1865
|
972
|
1875
|
1 256
|
Como mostram os documentos 07 e 08 estava difícil
adquirir e manter um negro. Aliasse a isso a resistência a escravidão, a
pressão inglesa, o movimento abolicionista e temos o contexto que faz a
escravidão entrar em crise e acabar de vez.
5.
Pós-abolição:
o problema da integração social
DOC 09
“Mas essa história não acabou
com a abolição: faltava a inclusão da população negra nos direitos de
cidadania, pois, como afirmou o jurista Joaquim Nabuco, não bastava ao Estado
pôr fim à escravidão; havia que dar aos libertos as condições para uma vida
digna.”
LOPES, Karina. Tema
de Redação: Desigualdade racial. Disponível em https://geekiegames.geekie.com.br/blog/tema-de-redacao-desigualdade-racial/ Acesso 22
nov. 2016.
Como deixa claro Lopes a abolição sem integração
social acaba deixando graves sequelas como a desigualdade social apontada pela
propaganda da CUT no ano de 2013 referente ao dia da consciência negra como
podemos ver no documento 10
DOC 10
Figura
02 Cartaz da Central Única dos Trabalhadores do dia da Consciência Negra de
2013. Disponível em google.com.br Acesso 22 nov. 2016
6. Políticas
afirmativas
DOC
11
Figura
03 Capa da revista ISTOÉ nº 2264 de 10 de abril de 2013. Disponível em google.com.br
Acesso 22 nov. 2016
Na
tentativa de superar a desigualdade se cria políticas públicas inclusivas como
as cotas que tem se mostrado eficientes, mas não suficientes.
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