A MERETRIZ QUE PARIU : UM ESTUDO DOS PALAVRÕES


GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.
SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA.
ESCOLA ESTADUAL DOUTOR ANTÔNIO DE SOUZA.
ENSINO MÉDIO.
EDUCADOR: CLÁUDIO  NETO.

“Está no riso obrigatório e no pavor”

MONTENEGRO, Oswaldo. ”Sexo”.Cd “A partir de agora”.

UNIDADE II:
PODER, SEXO E GÊNERO NA MICROFÍSICA DO COTIDIANO

Aula 01: A hipótese repressiva: a incitação ao discurso.
Estudo de caso.
CADERNO DE TEXTO  

Tirando suas conclusões.
Apreendentes chegou à hora de exercitar as discussões feitas em sala de aula. Esta atividade tem por objetivo verificar a sua aprendizagem até aqui e desenvolver a capacidade de refletir cientificamente sobre os atos.Como o nome da própria disciplina diz nosso objetivo é estudar e analisar o mundo que nos cerca,por isso hoje iremos realizar um estudo de caso.
Estudar um caso é isolar um tema e buscar compreendê-lo. O nosso tema será o uso dos palavrões ,buscaremos compreender como o palavrão se relaciona com a repressão sexual e o poder da sociedade sobre nosso corpo.
Leia com atenção o conjunto de textos que se seguem buscando o nosso objetivo.
Texto 01

            Século XVII:seria o início de uma época de repressão própria das sociedades chamadas burguesas,e da qual talvez ainda não estivéssemos completamente liberados.Denominar o sexo seria,a partir desse momento,mais difícil e custoso.Como se,para dominá-lo no plano real,tivesse sido necessário,primeiro,reduzi-lo ao nível da linguagem,controlar sua livre circulação no discurso,bani-lo das coisas ditas e extinguir as palavras que o tornam presente de maneira demasiado sensível.Dir-se-ia mesmo que essas interdições temiam chamá-lo pelo nome.Sem mesmo ter que dizê-lo,o pudor moderno obteria que não se falasse dele,exclusivamente por intermédio de proibições que se completam mutuamente: mutismo que,de tanto calar-se,impõe o silêncio. Censura.
            [...] Novas regras de decência,sem dúvida alguma,filtraram as palavras:policia dos enunciados.Controle também das enunciações:definiu-se de maneira muito mais estrita onde e quando não era possível falar dele,em que situações,entre quais locutores,e em que relações sociais;estabeleceram-se ,assim,regiões,senão de silêncio absoluto,pelo menos de tato e discrição:entre pais e filhos,por exemplo,ou educadores e alunos,patrões e serviçais.

Referência Bibliográfica: FOUCAULT,Michel.História da sexualidade: a vontade de saber.10 ed. V.1 Rio de Janeiro:Graal,1988.p.21-2.
 
Texto 02

Alguns palavrões têm origem inocente?

Mário Araujo | 01/01/2006 00h00
Lúcia Regina,
Rio de Janeiro/RJ
Sim. Mas, antes de mais nada, um aviso para os leitores que pretendem saber a resposta: vocês vão encontrar nos próximos parágrafos palavras de baixo calão. Portanto, se forem se sentir ofendidos em ler palavrões, é melhor pararem a leitura aqui mesmo.
Para quem veio adiante, um exemplo de uma palavra que teve origem inofensiva, mas que perdeu o sentido original e virou palavrão, é “caralho”, usada hoje como sinônimo de pênis ou como interjeição para demonstrar espanto. O termo vem do latim characulu, diminutivo de kharax ou charax, palavra grega que significa “estaca” ou “pau” (pedaço de madeira). “Ele passou a ser usado para designar o membro do touro na Antiguidade”, diz o jornalista Luiz Costa Pereira Junior, autor de Com a Língua de Fora – A Obscenidade por Trás de Palavras Insuspeitas e a História Inocente de Termos Cabeludos. Daí para virar sinônimo de pênis em geral foi um pulo.
Já “boceta”, termo usado hoje como sinônimo de vagina, tem origem no latim buxis, “caixa de buxo” – buxo, por sua vez, é uma árvore. “As gregas e romanas tinham preferência por essa madeira para suas pequenas caixas em que guardavam objetos de valor”, afirma Luiz. Logo, com a evolução da língua, elas foram chamadas de bocetas. Há registros do termo associado ao órgão feminino em poemas portugueses do século XVIII.A associação se deve ao fato de ele ser o lugar em que está o tesouro da mulher.
“Porra”, termo empregado hoje quando algo dá errado  ou como sinônimo de esperma, designava uma arma de guerra medieval: era um bastão de madeira com ponta protuberante, cravejada de lanças de metal. O instrumento foi associado ao membro masculino e, com o passar do tempo, ao sêmen.
Referência Bibliográfica: Disponível em:http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/alguns-palavroes-tem-origem-inocente-434500.shtml  Acesso em:27 DE JULHO DE 2011


Texto 03

Em seu artigo denominado “PALAVRAS, “PALAVRÕES”: UM ESTUDO SOBRE A REPRESSÃO SEXUAL A  PARTIR  DA  LINGUAGEM  EMPREGADA  PARA  DESIGNAR  A GENITÁLIA E PRÁTICAS SEXUAIS, NA CULTURA BRASILEIRA” os mestres  em gênero,sexualidade e educação  Eliane Rose Maio Braga e  Paulo Rennes Marçal Ribeiro fazem uma investigação nas escolas de 4 regiões do Brasil com o objetivo abaixo:
“Neste  trabalho,  buscamos  como  objetivo  geral,  verificar  e  analisar  quantos  e quais são, na cultura brasileira, os sinônimos atribuídos aos órgãos sexuais masculino e feminino (pênis e vulva) e a duas práticas sexuais (masturbação e relação sexual).’
Cujo o resultado foi obtido foi:
 “Por  essa  afirmação  confirmamos  a  dificuldade  (expressa  nas  palavras)  que  as pessoas apresentam ao se referirem às partes do corpo relativas aos genitais e a algumas práticas  sexuais.  Parece  que    a  necessidade  de  se  modificar  a  linguagem,  como garantia  de  uma  proteção  psíquica  e  até  social,  para  que  possa  ser  mais  bem  aceita socialmente, como também para interiorizar uma maior tranqüilidade.”
Veja os dados que foram obtidos na pesquisa:

Órgão sexual masculino:Pênis
PALAVRAS/“PALAVRÕES”/SINÔNIMOS/FALAS POPULARES
N.ABSOLUTO
PAU
106
 PINTO
105
 CARALHO (CARAIO)
94
 CACETE
89
 BRÁULIO
82
 ROLA
73
 PIPI 
70
 BILAU
59
 PIRULITO
55
 PINGOLIN (PINGULIN/ PIGULIN)
50
 PICA
50
 PIUPIU
37
 PASSARINH
35
 PISTOLA
34
 PERU/PIRU
31
 COBRA
28
 MANDIOCA
21
 SACO
20
 VARA
20
 ZEZINHO
20
 PIROCA
20
 BINGULIN (
19
 LINGÜÏÇA
17
 PINGOLA 
17
 JÚNIOR
16
 MINHOCA
16

Órgão sexual feminino:Vulva
PALAVRAS/“PALAVRÕES”/SINÔNIMOS/FALAS POPULARES
N.ABSOLUTO
PERERECA
105
CHANA (XANA)
102
BUCETA
100
PERIQUITA/PIRIQUITA
94
PERSEGUIDA
83
XOXOTA (CHOCHOTA)
79
ARANHA
60
PREXECA (PRECHECA)
54
XERECA/CHERECA
46
XAVASCA (CHAVASCA, JAVASCA
43
VAGINA
36
XEXECA/CHECHECA
35
CAPÔ DE FUSCA (CAPU DE FU
33
XECA (CHECA, SHECA, XHECA
32
POMBINHA
30
POMBA
25
FLORZINHA/GARAGEM
17
BOLACHA
16
CHEIROSA (XEROSA)TITINHA
15
BORBOLETA/XANINHA
13
 
 
O gráfico  abaixo  ilustra  o  número  de  sinônimos,  distribuídos  entre  as  1.308
palavras que se referiram aos agrupamentos temáticos.
Referência Bibliográfica:
BRAGA,Eliane Rose Maio;RIBEIRO,Paulo Rennes Marçal. “PALAVRAS, “PALAVRÕES”: UM ESTUDO SOBRE A REPRESSÃO SEXUAL A  PARTIR  DA  LINGUAGEM  EMPREGADA  PARA  DESIGNAR  A GENITÁLIA E PRÁTICAS SEXUAIS, NA CULTURA BRASILEIRA”.
Texto 04

O direito ao palavrão. Luis Fernando Veríssimo.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas Pra caralho, o Sol é quente Pra caralho, o universo é antigo Pra caralho, eu gosto de cerveja Pra caralho, entende?
No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não" o substituem. "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma! . O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepne", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o- pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o- pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cú!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cú!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cú!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!". Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda- se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!.
Grosseiro, mas profundo... Pois se a língua é viva, inculta, bela e mal-criada, nem o Prof. Pasquale explicaria melhor. "Nem fodendo..."
Referência  Bibliográfica:


 







 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS: UM QUADRO RESUMO

SHOPENHAUER, A ARTE DE TER RAZÃO E A PÓS-VERDADE NA ERA DIGITAL

A CORRUPÇÃO NOSSA DE CADA DIA QUE NOS DAMOS HOJE - A BANALIDADE DA CORRUPÇÃO NO BRASIL