As mil faces da Memória: verdade , memória e poder


O texto a seguir é um trecho do artigo 
"Barreira contra o “Inferno”: a construção política da memória do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno em Fernando Mendonça " escrito por 
Cláudio Correia de Oliveira Neto e  Poliana Cláudia Martins da Silva Dantas na ocasião do V Encontro Estadual de História - Caicó em Agosto de 2012. O trecho nos ajuda a entender a relação entre História, Memória,Verdade e Poder.
Apreciem sem moderação.

Organizando a memória
Antes de prosseguir é necessário discutir um pouco acerca da memória voluntária para que possamos compreender a obra de Mendonça e resignificá-la na contemporaneidade. O nosso primeiro passo é compreendermos que a memória não é um acesso direto ao passado, é antes de qualquer coisa um esforço para recompor o passado. O esforço empreendido na recomposição é realizado no presente, e atende a uma determinada demanda do mesmo. A evocação da memória tem o dever de suprir ou suprimir em alguns casos carência do tempo presente.
A memória voluntária que denominaremos agora de lembrança é a organização da experiência vivenciada. A experiência a ser organizada estabelece fronteiras entre o que foi e o que é e a relação entre o tempo passado e o tempo presente; estabelecesse também a representação do passado ao qual os grupos sociais do presente recorrem quando é preciso. Este nível da memória não conserva em si o “passado puro”, visto que ele é produzido, é um ponto de vista sobre o passado.
A maneira como a memória é organizada produz um determinado efeito no seu uso. Elas são organizadas de acordo com o interesse político. A memória coletiva sofre um registro voluntário por ser capaz de gerar critérios de alteridade e uma construção discursiva sobre o eu, o nós e os outros. É a propriedade de conservar certas informações que nos permite a autoafirmação e reconhecimento dos pares. Sendo a memória coletiva um instrumento e objeto de poder, servindo tanto para libertar como para prender. Em grande medida a memória é um estandarte de poder, um controle do presente sobre o passado.

O livro do Capitão Fernando de Mendonça, na luta contra o esquecimento, organiza a memória voluntariamente. A ordem da memória que a obra trás possui uma intencionalidade e produz um efeito e uma identidade no presente. Esse artigo pretende verificar como a memória presente no livro “Barreira do Inferno” do Capitão Fernando de Mendonça é organizada. Lançar o discurso do “Barreira do Inferno” em seu contexto histórico para fazer ver como interesses políticos historicamente delimitados registram voluntariamente a memória para produzir passado e consolidar e reafirmar identidades do presente .
Estudaremos o livro por partes e a função dessa parte para a organização e construção da memória. A primeira é uma análise do discurso da apresentação feita por Hélio Galvão. Em seguida temos a discussão sobre como o livro apresenta o seu autor. Verificaremos o discurso transcrito da palestra proferida pelo Capitão Mendonça. Por ultimo a coletânea de reportagens do jornal O Globo que compõem uma parte final do livro.

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