I.(IN) COMPETÊNCIA CLANDESTINA: ATO E POTÊNCIA

O texto a seguir é um trecho do artigo 
 GENTE COM MEMÓRIA DE AGENTE: O ALUNO, HABILIDADE E AÇÃO INFECTANTE escrito por 
Cláudio Correia de Oliveira Neto e Raimundo Hélio da Silva     na  ocasião do                   V Encontro Estadual de História - Caicó em Agosto de 2012.
Apreciem sem moderação !
 
No decorrer da formação básica, o aluno deve desenvolver certas habilidades e competências, uma rapidez de raciocínio lógico para interpretar e discorrer sobre várias disciplinas, rapidez em dialogar assuntos amplos de sua vivência, perspicácia para um raciocínio matemático, físico e químico, etc. Habilidades eficazes para serem aplicadas na vivência escolar uma vez que, estas foram formuladas para um público específico o educando, este é formatado para desenvolver competências que são impostas, as quais caso não sejam alcançadas será punido esta punição é severa ai desde a repreensão verbal até a reprise de um ano inteiro de repetições de normas e fórmulas que devem ser aprendidas sem discussão de suas aplicabilidades em sua vida fora das paredes escolares.
O
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¹ Nome próprio de lugar, ou de acidentes geográficos.  Gram. dos adjetivos que indicavam nacionalidade, os quais também eram chamados pátrios.
² Poti: camarão. Potiguar: indígena da região NE do Brasil.

aluno no decorrer de sua passagem na vida escolar não percebe que está em uma
“prisão educativa” e repleta de regras que os docilisam, os amansam, os formate, os observam e os punem. Em fim uma série de regras e obrigações que são inseridas sem que ele perceba, aos que contrariam resta à punição foi o que FOUCAULT após várias observações do sistema prisional e manicomial que eram seus objetos de estudos classificou a escola como um tipo de panótipo³ a sala de aula seria como uma prisão cujo observador (o professor) desempenha seu papel de sentinela, carcereiro e carrasco, funções que agregam as atribuições que lhe são impostas, pois, ele também é prisioneiro em condicional deste mesmo sistema prisional.
Mas, como mudar isso, como quebrar estas regras? Tudo isso só terá uma fundamentação se o professor infectador tiver uma boa base de formação e aperfeiçoamento, que começa na sua graduação, nesse momento esse ser infectante deve distinguir de sua colônia a que cepa pertence, a dos que reproduz, repete, imita e copia ou o que procura questionar, duvidar, violar e interrogar a si e aos seus pares, o produto desse questionamento é o que deve ser transportado para além dos muros das universidades em forma de projetos de extensão, então, a partir desse momento o professor também tem essa mesma habilidade e competência hospedada no seu ser para transplantar no seu aluno o futuro hospedeiro, nesse instante estas habilidades explicitadas no PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) terão algum sentido para quem se cobra e deixam de serem apenas verdadeiros cartões de memória, HD’s (Discos Rígidos) de computadores com suas memórias RAM (Memória de acesso aleatório) que no menor descuido apagam todas as informações nelas contidas.

Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização. O Ensino Médio, portanto, é a etapa final de uma educação de caráter geral, afinada com a contemporaneidade, com a construção de competências básicas, que situem o educando como sujeito produtor de conhecimento e participante do mundo do trabalho, e com o desenvolvimento da pessoa, como “sujeito em situação” – cidadão. p. 5-10.PCN

Em um ato de fé os professores ajudam seus alunos a desenvolverem essas competências e essas habilidades que foram determinados como necessárias. “São necessárias para meu aluno” repetirão os professores, como se fosse um mantra. Todo o ato de fé é excomunga a dúvida. As Competências e Habilidades são naturalizadas,como se existissem desde sempre,como se não tive intencionalidade, um contexto histórico, um conflito de interesses.
O Texto do PCN deixa claro o caráter formador do Ensino Básico, é uma bussola que aponta o norte. Mas quem determinou onde fica o norte? Por que o professor e o aluno devem ir para o norte? E se o aluno ou o professor quiserem outra direção?
A bandeira dos Parâmetros Curriculares é alicerçada num aspecto da vida humana que se transformou em um valor central, o trabalho. O valor humano passa a ser definido pela capacidade de trabalho, o cidadão trabalha para a sociedade. Assim sendo não é estranho que a escola em seus atos de fé queira “a construção de competências básicas, que situem o educando como sujeito produtor de conhecimento e participante do mundo do trabalho, e com o desenvolvimento da pessoa, como “sujeito em situação” – cidadão.” É o que Trabalho pretende dar sentido a vida humana. A categoria trabalho é até projetada para além do humano, transferimos isso aos animais, qual criança não sabe que as formigas trabalham?
Mas o Trabalho é a única faceta de um ser humano? Certamente que não, afinal seres humanos são infinitos presos em carne. Se ele não é a única faceta então porque aceitar passivamente que ele se torne um valor central? Por que deixa-lo como o sentido de vida? Por que nossos PCN não constroem competências básicas para amar? Por que não pode ser a amizade o pilar do PCN? Sabe por que não pode? Ninguém sabe as competências básicas que precisamos para viver, não há um roteiro na vida que possa indicar um norte.
A escola é uma ilha de ilusões que exige certeza para um mundo incerto. Deixam-nos com medo de experimentações. Pior nos impede de exercitar o que estamos sendo. Estipulam objetivo que são dela para os alunos que não são ela. A Escola não pensa sobre o pensamento que pensa.
Nenhuma Competência ou Habilidade construída pela escola poderá ser usada para ajudar uma adolescente que após ter engravidado teve que ir morar com o namorado a lhe dá com a solidão que agora sente. As competências do Mundo do trabalho e do cidadão são incompetentes para a complexidade da vida. É a complexidade do viver que em sua incompletude justifica a Vida. Somente ela tem a completude ou a ausência de completude para ser valor basilar· que dá de sentido a si mesmo. Pois a Vida faz pensar sobre pensamento da vida.
Sem nenhuma sombra de certeza habite no movimento de pensar sobre o que pensamos algo que vá fora do domínio de Competências e Habilidades que engessam a empiria que nos leva a aprender e a pensar verdadeiramente. Desprendermos-nos do que norteia e conduz começar a apreciar o movimento, o ir e vir das ondas, atentar as paisagens e ao caminho mais do que ao lugar de destino.
Cabe aqui exercitar o pensar sobre o pensamento. Não é conceituar, dizer o que é ou não é pensar, mas ver o silêncio entre o que é e o que deixa de ser. O convite não é para chegar a nenhum lugar é só para caminhar. A palavra em geral não possui essência, se assim fosse todos os ouvintes entenderiam a palavra de uma mesma maneira, o que na prática não ocorre. O que é tido como elogio para um individuo pode ser uma grande ofensa para outro. Mas o que determinar o que é ofensa e o que é elogio para uma pessoa? É a experiência, vivencia que ela teve com a palavra, o sentido que ela preencheu a ideia repito não tem essência. Pensamento e Pensar são palavras e serão infladas com as experiências. A Experimentações até aqui encheram o Pensamento e o Pensar de sentidos distintos.Na palavra Pensar foi dado o sentido de Criar enquanto o Pensamento é a Questão criada.Conjugadas posse dizer que Pensar o Pensamento é Criar Questões.Pensar o Pensamento que se pensa é Criar uma ou mais questões sobre a representação das coisas.Pensar sobre o Pensamento do que se pensa sobre o trabalho seria...antes de disso é necessário discutir sobre o caráter antidivino da Criação.
Na mitologia Cristã a divindade Cria por evocação, ele chama às coisas a existência. Cria-se de um nada, um nada em si. Não é dessa Criação que evoca as coisas à tona. O ato Criador sobre o qual o meu pensar está pensando esse pensamento é antidivino, é provocado. Se cria por uma provocação .Algo Externo lhe perturba ao ponto de disparar a criação que rompe ,que peca que transgride.Aquele que ao buscar ao buscar,ao inventar,ao ousar –o que ainda não foi se quer tentado incorre em transgressão.Criar é violentar a representação das coisas. Se violenta está representação pensando, ou melhor, com um Pensamento. O Pensamento se caracteriza por uma Questão. Pensar/Criar uma questão que subverte ,desnaturaliza a representação.A Questão não obtém resposta alguma ela apenas provoca levando ao Pensar ,é um movimento.Não se chega a um lugar apenas se faz andar.
Voltemos ao Trabalho. Ao ser provocado pelo Exterior da menina que se sentia solitária em sua nova jornada se disparou o Pensar que gerou um Pensamento (Como as Competências e Habilidades exigidas pelo PCN ajudaria aquela menina?) sobre a representação do Trabalho na contemporaneidade. A provocação veio de um exterior, a solidão da menina não é um objeto da educação sobre Currículo Escolar, e fez deslocar violentar a representação tida como natural, que os professores seguem como ato de fé. E isso só acontece por que não fomos provocados a Pensar o Pensamento sobre o que se pensa em Educação. Até hoje não se perguntou o que é uma sala de aula? Ou o que é uma aula? Pois se aceita com fé a representação, o que leva a infertilidade, se impede a criação.
Preocupam-se em demasiado em fazer, sem pensar um pensamento sobre o fazer. Querem tanto chegar a algum lugar que se esquecem de olhar o caminho. Tentam a todo custo agarrasse a certeza e evitar à heterogeneidade, a estranheza, a incerteza, o abandonar-se no mar, pular de um abismo sem a segurança de um anjo para salvar. As pessoas e as escolas rejeitam o experimentar. Certa vez em uma aula sobre Identidade quando questionado sobre quem/o que impedi um homem de usar uma saia o aluno respondeu em alto e bom tom: EU ME IMPESSO. Creio que as palavras deles já bastam para entender o problema escolar acerca da ausência de vida.
Não se pode ensinar a Pensar, não há método para isso.Não sabemos que experiências os outros tiveram para significar o Estranho que perturba e dispara a criação.Pensar o Pensamento que se pensa,fazer um “Metapensamento”- será esse o termo que usaremos para referir-se ao criar questões sobre as representações que nos cercam –não é um ato espontâneo . Até a atualidade o simples desejo para que um objeto imóvel se ponha em movimento não basta para fazê-lo se movimentar. Se aplica uma força ao objeto,que o impulsiona e lança fora do repouso. Realizar Metapensamento também exige aplicar uma força. Nosso Pensar é condicionado a uma inércia, tende a um repouso, a uma conformidade e uma naturalização. Apesar de não sabermos o que vai provocar o pensar, podemos ao menos lutar contra a inércia do pensamento,essa tendência a naturalizar. Jihad é representado como Guerra Santa,mas seu sentido arcaico é do Homem lutar contra si,devemos ter uma Jihad do pensamento.Lutar contra nossa própria tendência a conformidade. Não é possível dizer como combater, ainda não havia feito essa questão,que só surgiu agora na tentativa de realizar Metapensamento sobre o Metapensamento.
Assim exposto, pergunta-se que preparação este alunado teve do decorrer desse percurso? Propõem-se possíveis respostas.
REFERÊNCIAS

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DISPONÍVEL EM:
http://nataldeontem.blogspot.com/ Acesso em: 110/05/2012

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