A FUNÇÃO SOCIAL DOS CURSINHOS PREPARATÓRIOS: UMA REFLEXÃO


Por Cláudio Correia de Oliveira Neto
Historiador Licenciado- UFRN
Técnico de Nível Médio Integrado em Controle Ambiental- IFRN
            Com certeza em algum momento da sua vida você necessitou ir resolver algum problema em uma repartição pública. Chegando lá foi atendido(a) por um(a) funcionário(a) público(a), provavelmente concursado. E em alguns casos foi atendido de maneira inadequada ou ineficaz. O(A) funcionário(a) em questão possivelmente concorreu aquela vaga num concurso público e há grande probabilidade de ter passado por um cursinho preparatório. É comum que uma parcela significativa dos(as) concursados(as) tenha alcançado aquele cargo sem ter feito uma reflexão sobre o que é ser um(a) servidor(a) público(a) e qual a função social dele(a). Essa ausência reflexiva resulta em prejuízos coletivos, que podem acabar se concretizando em atos de corrupção. Então no processo seletivo não é suficiente preparar para a prova, é preciso também preparar para o exercício do serviço público. E neste sentido os cursinhos preparatórios podem desenvolver um importante papel social.
            O contexto sócio histórico do surgimento dos cursinhos está entrelaçada a desigualdade de acesso ao ensino superior. Eles denunciam uma contradição social, a educação básica (seja na rede pública ou particular) não é suficiente para preparar a sua clientela para concorrer e garantir uma vaga seja no serviço público ou nas instituições de ensino superior.  É justamente com a criação dos exames de ingresso nas universidades em 1915, que é criado um primeiro curso preparatório para os candidatos. Na segunda metade do século 20 houve no Brasil um aumento da população e da classe média, contudo a oferta de vagas no setor público não acompanhava o mesmo ritmo, o que levou há uma necessidade de um preparo maior dos candidatos. É com a função de melhor preparar ou complementar a instrução básica que surgem os cursinhos. Na medida em que aumentou a concorrência entre os candidatos a educação se tornou um nicho comercial altamente atrativo e lucrativo. Isso levou a um boom dos preparatórios para vestibulares, criando grandes redes nacionais de empreendimentos educacionais dedicados exclusivamente a aprovação em vestibulares. Na primeira década do século 21 no Brasil com a chegada do PT ao poder, com um projeto de ampliação da musculatura estatal, e portanto do funcionalismo público, os cursinhos vivenciam sua era de ouro com uma grande e variada quantidade de concursos públicos para todos os níveis de ensino.
         
   O Brasil passa por uma grave crise política, que tem como raiz um histórico problema com corrupção. Isto atrelado a falta de noção de público e coletivo. Um dos caminhos possíveis para sanar a questão é um funcionalismo público carregado de ética, bem coletivo e sentido de serviço público. Os preparatórios devem não apenas instrumentalizar para um concurso, mas também é necessário construir valores e levar os concurseiros a uma reflexão sobre a função social do cargo que almejam. Ao apenas instruir para uma prova os cursinhos estão se omitindo do combate a corrupção, abrindo mão de induzir a um serviço público de qualidade. O não se posicionar é colaborar para a permanência da corrupção em nossa sociedade. Ainda que a direção do estabelecimento educacional não se proponha a isso É OBRIGAÇÃO ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO que ali trabalhem fomentarem o debate e a reflexão sobre a função social dos servidores públicos.  


COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:
OLIVEIRA NETO, Cláudio Correia de. A função social dos cursinhos preparatórios: uma reflexão. Natal, 25 maio 2016.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
WHITAKER, Dulce Consuelo Andreatta. Da “invenção” do vestibular aos cursinhos populares: Um desafio para a Orientação Profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional jul.-dez. 2010, Vol. 11, No. 2, 289-297.


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