O USO DE FONTES NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA

Por Cláudio Correia de Oliveira Neto
Historiador Licenciado – UFRN
Técnico de Nível Médio Integrado em Controle Ambiental – IFRN


RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento – imagem e texto. 2 ed. São Paulo: FTD, 2002.   p.16 – 114. ( 8ª  série - Coleção História em Documento – Imagem e Texto).

            O livro apresenta uma proposta muito interessante, ele é dividido em unidades temáticas estando o conteúdo de  História do Brasil República I em duas unidades: “A eclosão de movimentos sociais(1900-1920)” e “O poder do Estado (1920-1945)”. As unidades se subdividem em capítulos, e cada capitulo equivale a uma problemática, como, por exemplo, “Quem governa o Brasil na primeira República?” Cada um dos capítulos se inicia com um texto/documento, que pode ser uma música, um poema, um conto, uma crônica entre outros. Logo em seguida um resumo geral do conteúdo com indicações e esclarecimentos. A partir desse momento os alunos começam a analisar uma série de documentos como cartas, bilhetes, charges, fotos, músicas, textos literários e propagandas. A obra em questão não possui erros, apesar de conter superficialidades a serem melhores discutidas nas Considerações finais.
            Há duas sessões do livro, no fim de cada capítulo, responsáveis por fazer a ponte entre os eventos estudados e a vida contemporânea, são elas a sessão “Desafios” e a sessão “Refletindo sobre a História”. Veja um exemplo de como essas relações (passado/presente) são estabelecidas na sessão “Desafios”:
“Junto com o seu grupo, leia com atenção as notícias, observando:
a)      A data de publicação da notícia;
b)      Qual é o fato noticiado e a que esfera politica se refere (municipal, estadual ou federal);
c)      Qual a importância e o significado politico para os cidadãos;
d)      Como os conceitos de coronelismo, clientelismo e nepotismo foram empregados.
Lembre-se: não interessa saber o nome dos políticos e de seus partidos (por isso eles foram omitidos), mas sim o que está sendo discutido no texto.” RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento – imagem e texto. 2 ed. São Paulo: FTD, 2002. p . 32.  (8 ª série – Coleção História em Documento – imagem e texto). 


            Há uma verdadeira exuberância de diversidade de fontes que a autora usa uma combinação de texto e imagem. Um exemplo é o alinhamento entre uma foto de cangaceiros ao lado de uma carta escrita pelo cangaceiro Arvoredo a um fazendeiro.  Observe o fragmento usado:
“Ilmo sr. Francisco de Souza
Aspiro boa saúde com a exma.  Família. Tendo eu frequentado uma fazenda sua, deliberei saudando-o em uma cartinha, pedir um cobrezinho. Basta dois conto de réis. Eu reconheço que o senhor não se sacrifica com isto e eu ficarei bem agradecido e não terei de lhe odiar nem também a gente de Virgulino terá esta razão.
Sem mais do seu criado, obrigado.
Hortêncio, vulgo Arvoredo, rapaz de Virgulino.” Publicado no Jornal “A Tarde”, 21 jan. 1931. Coletânea de documentos históricos para o 1º grau. São Paulo: SE/CENP, 1980, p. 51.
Por sua formação em História Social na PUC/ SP a autora  dá uma especial importância a movimentos sociais. As camadas populares estão sempre em destaque. Verificamos isso no trecho abaixo:
“O cangaço, surgido na época do Império, se difundiu com a grande seca de 1877. O cangaceiro/era o homem do povo que se tornou fora-da-lei como forma de vingaça por ofensa, desonra, ou injustiça de fazendeiros ou policiais contra ele ou sua família. Bandos de cangaceiros, com três a cem homens armados, perambulavam pelo interior nordestino atacando fazendas, povoados e cidades em busca de armas, munição, dinheiro, cavalos, mantimentos, bebidas, roupas e etc.
Por assaltarem de preferência os ricos e as autoridades  e algumas vezes, darem aos pobres parte do que roubavam, os cangaceiros eram vistos pelo povo como “justiceiros” e heróis. Sua origem, atitude e objetivo de luta os tornaram bandidos sociais. Mas os cangaceiros também trabalharam para alguns fazendeiros e negociantes, que os contratavam para eliminar ou prejudicar adversários.”  
RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento – imagem e texto. 2 ed. São Paulo: FTD, 2002. p . 32.  (8 ª série – Coleção História em Documento – imagem e texto). 
 
            A obra possibilita uma formação cidadã do educando, pois a ênfase na análise documental garante o exercício do pensamento crítico-histórico. Com atividades reflexivas que fazem o aluno confrontar as diversas realidades temporais fornecem ao alunado construir suas interpretações sobre a História.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
             

            A obra é adequada à série e apresenta uma proposta muito interessante. O uso do recurso documental enriquece o livro e possibilita o mínimo entendimento da metodologia da Ciência Histórica. Muitos dos alunos passaram pelo ensino básico sem ter tido contato com documentação histórica, prejudicando a Educação Histórica.
            Por todo o aspecto lúdico do livro, ele oferta a possibilidade dos alunos a imaginarem os eventos históricos e melhor compreende-los. A narratividade do livro é um ponto forte para um nível de ensino que está sendo introduzido nos Estudos Históricos.   
            O livro, no entanto passa por uma superficialidade e em alguns momentos de presentismo. É desconsiderada a historicidade do conceito de democracia, de república e de cidadão. Há ainda certa naturalização sobre a proclamação da República, não se discute o fato de ser uma opção realizada por sujeitos históricos, resultados de conflitos entre os diversos grupos sociais, políticos e ideológicos.


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